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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita em edições semanais.
Vem comigo?

Dando continuidade ao que escrevi na edição #42, quero comentar que comecei a ler O Espaço Moderno, livro de Alberto Tassinari que discute arte moderna a partir da noção de espacialidade.
Um dos conceitos que ele evoca (e que particularmente acho muito interessante) é o de espaço em obra, que considera necessário, dentro do espaço da arte moderna, a comunicação entre obra e mundo. Além disso, ele se trata, fundamentalmente, de uma imitação do fazer da obra de arte, isto é, um movimento, um procedimento.
Por mais que Tassinari aqui se refira, em geral, à pintura e escultura e dê pouco lugar para expressões como a literatura e a fotografia (que são o cerne da minha pesquisa acadêmica e artística), o espaço enquanto meio entre obra/mundo pode muito bem ser adaptado ou aplicado dentro da poética da liminaridade.
As fotografias liminares costumam forçar um aspecto artificial por meio do uso de filtros e distorções, por exemplo, gerando os efeitos já mencionados de desconforto e estranhamento. O foco no procedimento - e não necessariamente no que a imagem representa - cria essa ponte entre o mundo real e o mundo que está sendo representado.
Na poesia, o espaço em obra envolve a transfiguração de emoções reais em símbolos e imagens, bem como o trabalho de linguagem. Alejandra Pizarnik era rigorosa com as palavras e queria representar a palavra de ouro - o silêncio - por meio da ação poética. Por isso mesmo, sua escrita revela-se com força um gesto perpetuamente em obra. A palavra, aqui, é lapidada durante toda a vida da autora para comunicar sua experiência com o real.
No momento, eu mesma me vejo em obra. Meu trabalho está em vias de tornar-se corporificado, mais uma vez, no palco da performance. Tenho a necessidade de construir, mais uma vez, uma persona para ler poesia. Do fundo do meu coração, eu tenho sentido uma raiva dilacerante e acho que ela precisa ganhar forma. Nunca li poesia com raiva e, se algum dia li, devo ter tentado sufocá-la.
Não é elegante. Mas pode ser.
Por isso, me coloquei neste exercício limítrofe de concretizar a sede por vingança sem ferir ninguém. Adaptando o que li de Tassinari, estou imitando o ódio e, assim, ele se torna viável e construtivo. Uma coisa meio Virginie Despentes quando ela escreve “QUERIDO BABACA”.
Talvez este seja o lado bom de ser poeta, de ser artista - poder ser sincero, 100% do tempo, sem se expor, sem expor outros.
Acompanhe minhas próximas apresentações:
06/07: V Sarau da Becca Luz, às 19h30, no Satyros Bar
07/07: SVSTVS!, às 21h, na Casa Slamb
Matryoshka Indica:
LIVRO: Radiografia das árvores, de Ivana Fontes (Cachalote Editora)
Primeiro livro de poemas da talentosa escritora sergipana Ivana Fontes, Radiografia das árvores me deu a impressão de estar visitando um álbum de fotografias em branco, onde a escrita inscreve, principalmente, as silhuetas e as memórias presentes nessas fotografias. O que eu quero dizer é que Ivana fala do corpo, mas é como este corpo estivesse desiludido, por vezes debilitado, só que ele ainda mantém algum espaço para se movimentar diante do mundo - é nessa ambiguidade que está a força do livro. Belíssimo.
🔗 Saiba mais: https://bit.ly/3IqNEQe
TATUAGEM: Arthur Cabral
Fiz minha última tatuagem - essa, do Sol/Lua na mão - em São Paulo com o artista Arthur Cabral. Super recomendo! Ele é mega cuidadoso e o traço é lindo. O Arthur está com agenda aberta para este mês. Só chamar pelo Instagram.
🔗 Saiba mais: https://bit.ly/3Iaxyu6
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