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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita em edições semanais.
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Quando me apresento e falo que sou “escritora e pesquisadora”, sinto como se estivesse usando uma única palavra ou mostrando dois diferentes ângulos para se olhar a mesma coisa. E, atualmente, isso tem feito cada vez mais sentido.
A minha pesquisa acadêmica de Mestrado busca intersectar a poética de Alejandra Pizarnik (principalmente a partir dos livros Árvore de Diana e Extração da Pedra da Loucura) com a das imagens dos Liminal Spaces - agora, com foco no sub-fórum r/EspaçosLiminares, que é brasileiro. Nele, encontramos desde retratos do nosso dia-a-dia (como a fantasmagoria de pontos de ônibus em plena manhãzinha) a lugares que praticamente fazem parte da História do país, como o lendário Parque da Xuxa (que eu mencionei na última newsletter, haha).
Neste meu primeiro semestre do Mestrado, ficou muito evidente a questão do espaço (sim, o espaço físico/material) enquanto território de uma subjetividade dissidente, marcada pela nostalgia e pela experiência-limite (pense, por exemplo, na capa dessa newsletter).
Quando comecei a pesquisa (processo que, inclusive, registrei aqui no Substack), curiosamente, não havia tanto uma preocupação com a dimensão corpórea do assunto, mas, para compreender a construção da “poética da liminaridade”, este aspecto é crucial - e acabou se tornando meu problema de pesquisa.
Ao longo destes meses inaugurais, também retomei a escrita poética. Eu queria - e ainda quero - manter a pesquisa viva e acesa dentro de mim. Um Sonho Lúcido nasceu por acaso, mas com essa pegada: um exercício prático do que eu estava colhendo e vivendo como pesquisadora.
Neste sentido, ela acaba por representar a ideia de paisagem unindo Pizarnik e os Espaços Liminares, já que, na plaquete, há uma transposição de emoções e situações difíceis (como o trauma e o coma) em ambientações, cores, formatos.
Na poesia pizarnikiana, encontramos precisamente esta fusão entre corpo e espaço, bem como a tentativa de registrar o inapreensível (o silêncio, que é explorado enquanto elemento metafísico em sua obra). Os Espaços Liminares (tomando o fórum brasileiro como exemplo) apresentam fotografias de lugares reais que despertam nostalgia ou uma sensação onírica nas pessoas que a veem, sendo uma estética com um público muito específico: jovens da Geração-Z, que enfrentam o limiar entre o fim da adolescência e o início da vida adulta. Na plaquete, a reconstrução do onírico, do nostálgico e do movimento de passagem se materializam enquanto elementos topográficos.
Diferente do projeto O Corpo de Laura, aqui, abandono o trabalho com a fotografia e radicalizo a construção imagética na poesia. Quis reforçar a montagem narrativa. Afinal, na plaquete, estão representados diferentes etapas do adormecer- em especial, “Insônia”, “Rapid Eye-Movement” e “Consciência” - configurando Um sonho lúcido enquanto um processo de sonho. Desta forma, o eu-lírico adentra o tecido do onírico, construindo um espaço que é íntimo, se movimenta, e dialoga com referências culturais dos anos 2000/2010.
E quando você vai lançar a plaquete? No momento, estou ainda resolvendo com a editora questões relacionadas à publicação e ao lançamento. Lembrando que esse é o espaço onde eu falo do processo, da criação viva. O lançamento vem depois — por enquanto, eu só quero que ela continue me atravessando.
Confira:
Impressões do livro Luz Selvagem, de Tatiana d’Angieri
Resenha do livro O homem não foi feito para ser feliz, de Maurício Mendes no Diplomatique Brasil;
Matéria sobre o livro Manifestos do Surrealismo no Jornal Valor Econômico (assessoria de imprensa)
Matryoshka Indica:
AQUI NO SUBSTACK:
PASSEIO: The DineRR Experience (Deli Market Pinheiros + MUBI Brasil)
Se você gosta de Twin Peaks e mora/estará em São Paulo entre os dias 24 de junho e 06 de julho, recomendo muito visitar a experiência do DineRR no Deli Market, que fica na região de Pinheiros próximo à estação Faria Lima do metrô. Tem torta de cereja, tem café, tem fliperama e até cabine fotográfica - e o ambiente é todo pensado para relembrar o ambiente do seriado.
🔗 Saiba mais: https://bit.ly/4lf43Gl
Este é o boletim semanal da Matryoshkaletter, conteúdo onde reflito sobre meu processo criativo como escritora. Ele é gratuito por enquanto, mas eu também publico poemas, resenhas e outros conteúdos exclusivos. Caso você ache que vale a pena e gostaria de apoiar meu trabalho, considere tornar-se assinante.
penso da mesma forma - a escrita e a pesquisa. as duas coisas estão sempre conversando por aqui. no meu caso, a antropologia (para mim, a linguagem que mais se aproxima da literária). E acho bem legal a temática.
A poesia e a pesquisa são dois rios que, embora pareçam seguir margens diferentes, acabam se encontrando no mesmo mar: o do conhecimento, da sensibilidade e da transformação.
A poesia deságua na pesquisa quando nos permite olhar além dos números, dos dados e das estatísticas. Ela nos dá voz, sentimento e humanidade para aquilo que estudamos. É ela que colore o que seria apenas teoria, trazendo alma, significado e vida às palavras.
Da mesma forma, a pesquisa deságua na poesia quando oferece profundidade, quando nos permite mergulhar na realidade, entender o contexto, dar nome às dores, às lutas e aos sonhos. A pesquisa traz a base, a estrutura, a verdade que sustenta a delicadeza do verso.
E é exatamente isso que vejo no trabalho da Laura. Um trabalho que não é só técnica, não é só método, não é só dado. É amor, é sensibilidade, é entrega, é potência. Ela transforma pesquisa em poesia e poesia em resistência, em coragem, em inspiração.
Por isso, Laura, você merece todo reconhecimento, toda honra e todo carinho. Seu trabalho não é só válido — ele é necessário, ele cura, ele inspira e ele ensina. Que nunca te falte a certeza do quanto você é incrível, do quanto você faz a diferença e do quanto você é amada e admirada por quem tem o privilégio de te acompanhar.