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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita em edições semanais.Vem comigo?
Estou escrevendo essa edição na noite da sexta-feira em que ela deveria ter sido enviada. Os dias têm sido muito corridos e exigido certa introspecção. Respeito essa necessidade de ficar em silêncio. E, para falar a verdade, até gosto (será Alejandra Pizarnik me chamando? rs).
Um ano atrás, coloquei no mundo uma ideia que eu vinha alimentando desde 2021. Muitos de vocês acompanharam o processo pela minha antiga newsletter. Ao longo dos meses de setembro e outubro, irei compartilhar com vocês o que venho vivenciando neste período de pós-publicação.
Bom, no início da semana - 16 de setembro, mais especificamente - O Corpo de Laura completou, enfim, seu primeiro ciclo. Considero a data do lançamento como "aniversário oficial" porque confirma que o livro saiu da gráfica, chegou às mãos das pessoas e debutou nesse mundo.
Entretanto, astrologicamente, sei que todo o processo final da obra pertence a um lugar entre Leão e Virgem - e é nesse aspecto que eu pretendo me focar na edição de hoje. Afinal, Leão diz muito sobre aparecer para o mundo, quiçá fazendo um statement, deixando sua marca para que ninguém esqueça. Virgem, por outro lado, é um signo de terra mutável: fala sobre recato, sobre uma necessidade de se organizar, de afinar a precisão do olhar.
Estes assuntos de "presença" e "exigência" acabam sendo algo muito importante para mim quando penso a respeito de ser uma escritora publicada de fato. Todo o processo que começou com ter ficado em 1o lugar no ProAC e que passou pela publicação de uma plaquete, de uma revisão crítica muito aguçada sobre o meu livro chegou ao mundo com o seguinte feedback: "é um livro denso. Às vezes, preciso dar uma trégua na leitura para depois voltar". Ouvi isso da Geruza Zelnys no lançamento. E, posteriormente, de outras pessoas.
Muita gente, na ocasião do lançamento, achou esse comentário duro. Eu já estou acostumada a ser lida, como pessoa, a partir desse adjetivo. Não acho ruim. David Lynch é um cara super denso também, e os filmes dele dificilmente não marcam alguém. O mesmo digo sobre Alejandra Pizarnik e seus duplos. Vocês já leram Asma, da Adelaide Ivánova? Pois é. Outro livro que demora pra ser digerido e apreendido em seus significados.
Cito esses nomes porque estes nomes constituem a tríade de referências de O Corpo de Laura. Entretanto, sei que me entender enquanto uma autora densa também foi um exercício de aprender a se frustrar para amadurecer. Na minha inocência, eu achava que ser vencedora do ProAC automaticamente me tornaria alguém muito culturalmente relevante, principalmente no meio da literatura. Em minha defesa, eu só tinha 22 anos na época.
Por outro lado, me pego pensando no quanto a necessidade de ser um grande nome não é exatamente uma medida em que há um consenso. No meu período enquanto cliente da
, apareci em veículos de grande relevância, como os jornais Rascunho e Valor Econômico, e em páginas de pessoas que considero relevantes, como as influenciadoras Aline Aimée, Bárbara Krauss e Literatamy. Mas não fui convidada para dar entrevistas, por exemplo.Lembro de ficar obcecada em ver a seção "publicações marcadas" do meu Instagram, se ela estava se atualizando ou não. Afinal, o que eu queria ter? Um registro da leitura das pessoas? Um milhão de postagens bonitinhas do meu livro? Não sei, gente. Sei que fui muito apoiada na época - e sou incrivelmente grata por todos que estiveram presente - e que tenho minha base de leitores. Tem gente que até hoje me manda direct falando do livro - e eu adoro. O buraco do vazio no peito é incansável e nunca fecha. Não importa o que aconteça.
Não sei se é uma necessidade "de ser perfeita" (um estereótipo bem virginiano) ou um desejo de ser vista, de ser aceita, de ser validada. Nunca entendi muito bem como funciona vestir a máscara do escritor. O que isso significa. Se sou uma autora bem-sucedida (o que é diferente de ser famosa) ou se sou apenas esquecível, mais uma.
Sei, por exemplo, que as pessoas gostam de comprar livro autografado (mesmo a minha letra sendo feia) ou em livraria. Ou em feiras - quando estou presente. Minha editora já tentou me explicar como funcionam os sistemas de dados de livrarias, mas sou "muito de humanas" para entender como meu livro chega até elas de fato. Quero circular, mas, ao mesmo tempo, sou muito introvertida para bancar a energia que sustentar o rolê exige.
Se aprendi uma coisa importante, no entanto, é: nunca subestime o seu leitor. Mesmo que você tenha só um. Não existe algo mais bonito, ao meu ver, do que saber que o que escrevo fez sentido para alguém, seja uma ou mil pessoas. Já me disseram, quando mais nova, que grandes intelectuais são pouco reconhecidos em vida, que é isso que os torna grandes - serem compreendidos por pouca gente. Ainda que meu sol em Aquário tenha certa síndrome de exclusividade, acho que é mais interessante observar como a minha palavra vai bifurcando e encontrando caminhos nas leituras de outras pessoas - que vêm de contextos e possuem formações diferentes das minhas. É aí que eu consigo ver, de fato, se consegui deixar minha marca com precisão - minha mensagem chegou aí?
Bom, talvez, eu ainda esteja maturando a ideia de ser uma escritora publicada. Gestar O Corpo de Laura me exigiu de corpo (com perdão ao trocadilho) inteiro, e, talvez, eu ainda me veja puérpera, em recuperação. Mal tenho conseguido escrever poemas ultimamente, sabe? Entretanto, penso que ainda há muito a ser construído. Na análise, entendi que este era apenas um pedaço - o primeiro pedaço - de uma trajetória.
Confira:
Post comemorativo de 1 ANO de O Corpo de Laura 🎂
Vídeo-performance O Corpo de Laura na Maldita Bendita!
Matryoshka indica:
PRÊMIO: Prêmio Amazon de Literatura Jovem 2025
O Prêmio Amazon de Literatura Jovem está com inscrições abertas até o dia 31 de dezembro de 2024. Para participar, você precisa publicar um texto inédito na plataforma KDP (Kindle Direct Publishing). Os jurados serão os escritores Thalita Rebouças, Pedro Rhuas e Alec Costa, e o vencedor será publicado pelo selo Pitaya, da HarperCollins Brasil. O resultado será anunciado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2025.
Leia o edital: https://bit.ly/3TxZqLB
PRÉ-VENDA: Coração-trincheira, de Leonardo Chagas (Editora Primata)
Coração-trincheira é o novo livro do poeta Leonardo Chagas e reúne 30 textos inéditos do autor, que se destaca pela influência surrealista. A obra conta com prefácio de Elvio Fernandes, capa em colagem de Alex Januário, quarta-capa de Mar Becker e projeto gráfico de Giovanna Langone. Os envios serão feitos a partir do dia 01/10.
Saiba mais: https://bit.ly/4ecOzil
Este é o boletim semanal da Matryoshkaletter, conteúdo onde reflito sobre meu processo criativo como escritora. Ele é gratuito por enquanto, mas eu também publico poemas, resenhas e outros conteúdos exclusivos. Caso você ache que vale a pena e gostaria de apoiar meu trabalho, considere tornar-se assinante.
Para mim é sempre um aprendizado quando vocês, autores publicados, compartilham essas inquietações, dúvidas, medos e sentimentos em relação aos seus livros. Que o Corpo de Laura continue trilhando um bom caminho. Que venham outros!
Parabéns pelo aniversário de livro. Essas questões aparecem mesmo e a gte tem que ir maturando...