#26 - Tá, mas e depois?
O pós-lançamento de um livro nem sempre traz só a sensação de promessa cumprida.
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Um ano atrás, coloquei no mundo uma ideia que eu vinha alimentando desde 2021. Muitos de vocês acompanharam o processo pela minha antiga newsletter. Ao longo dos meses de setembro e outubro, irei compartilhar com vocês o que venho vivenciando neste período de pós-publicação.
Lendo meu feed do Instagram, me deparei com uma postagem do escritor Marcelo Ariel que discorria sobre o processo de solidão que vem depois da publicação de um livro.
Isso me acertou em cheio porque, depois do lançamento de "O Corpo de Laura", vivi uma espécie de luto. Sei que parece exagero, mas a verdade é que eu passei quase três anos trabalhando nesse projeto. Dediquei muita energia a ele. Além disso, ele aconteceu justamente quando comecei a me entender como adulta, tendo participação nesse processo de amadurecimento.
Foi uma espécie de despersonalização, como se eu tivesse deixado de ter uma "estrutura". Eu nunca mais consegui escrever com paixão ou criar um direcionamento para mim mesma. Um projeto novo, que seja. Houve um impacto psicológico, que eu busquei contornar, justamente, com essa newsletter.
Não tenho a pretensão de falar sobre a minha saúde mental em detalhes - este não é objetivo do texto de hoje. O que eu quero dizer é que, empolgada demais com o projeto, com ser uma autora jovem e publicada, com colocar algo que fizesse sentido pra mim no mundo, eu não pensei que haveria vida depois, ou, melhor, não me planejei.
Sou uma pessoa cuja criatividade depende, fundamentalmente, de uma rotina. É por isso, por exemplo, que existe uma ordem nas postagens da semana no meu Instagram. Tenho Trello, calendário de parede, agenda física, tudo o que você possa imaginar nesse sentido. Só que, depois de "O Corpo de Laura", passei muitos meses sem saber para onde ir ou como conduzir a minha vida, o que dificulta criar essa "agenda".
Esse processo de pós publicação é extremamente solitário e dificilmente vejo alguém falando a respeito dele. Do bloqueio criativo, do cansaço. Da sensação de que você nunca mais vai conseguir escrever. Da intensa apatia em relação à literatura decorrente de tanto conviver e pensar nela.
O mais complicado é a comparação com o seu "eu" que escreveu, que é sempre visto como alguém muito distante de quem somos hoje. Não só distante como também superior, melhor, mais capaz, mais alegre. Não dá pra escrever poesia pensando se ela é boa o suficiente para ter sido escrita por quem ganhou o ProAC aos 22 anos.
Essa cobrança de ter sido "vencedora do ProAC muito jovem" me traz muita angústia e eu frequentemente sinto vergonha das dificuldades ou fracassos (normais a qualquer um) que acontecem como acontecem a qualquer ser humano. Às vezes, até questiono meu lugar na sociedade, meu lugar como escritora.
Como resultado, é muito mais difícil seguir em frente. Embora, nos últimos meses, eu me veja dando alguns pequenos passos, voltando a sonhar e maturar a escrita.
Acho que está na hora de abrir para a reflexão (como tudo que já publiquei aqui, eu acho) sobre o que veio depois. Este é um convite para pensarmos, também, em falar mais abertamente sobre essa fase e suas dificuldades.
Confira:
Divulgação da pré-venda do livro “Vai ver eu dou meu toque”, de Nathália Ranny, cujo prefácio é assinado por mim;
Leitura do poema “Dal’Maz”, de Ramon Felipe
Matryoshka indica:
LANÇAMENTO: Kitnet de Vidro, de Diuli de Castilhos, no bar Sol y Sombra
No dia 5 de outubro, vai rolar o lançamento do livro Kitnet de Vidro, da escritora gaúcha Diuli de Castilhos, publicado pela Laranja Original. no bar Sol y Sombra, em São Paulo. O evento acontecerá a partir das 15h e contará com leituras de Leonardo Gandolfi e Michele Soares.
MAIS INFORMAÇÕES: https://bit.ly/3Bn9dOp
AQUI NO SUBSTACK:
Recomendo essa leitura interessantíssima da escritora Sarah Munck Vieira sobre o tema das “panelinhas literárias” a partir de um viés mais politizado.
Este é o boletim semanal da Matryoshkaletter, conteúdo onde reflito sobre meu processo criativo como escritora. Ele é gratuito por enquanto, mas eu também publico poemas, resenhas e outros conteúdos exclusivos. Caso você ache que vale a pena e gostaria de apoiar meu trabalho, considere tornar-se assinante.
Estimada Laura, o seu livro nos leva para fora das caixas, panelas ou seja lá o que for.
É preciso comemorar o aniversário de lançamento de “ O Corpo de Laura”.
E que mais pessoas possam encontrá-lo.
Um beijo e obrigada pela leitura e recomendação do meu texto.